A poluição sonora rouba sua qualidade de vida


Danos ocupacionais

O professor livre-docente associado de Otorrinolaringologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Yotaka Fukuda, confirma que os sons muito intensos, capazes de danificar a audição, são mais freqüentemente encontrados em ambientes de trabalho. Metalurgia e tecelagem estão entre os segmentos de atividade industrial mais barulhentos. "Os danos estão diretamente relacionados ao tempo de exposição e à intensidade do som", confirma. Entre os mais expostos estão os operadores de tráfego aéreo, nos aeroportos, e de tráfego urbano nas avenidas de maior pico. Outros que começam a trazer problemas de audição aos ambulatórios de hospitais universitários como o São Paulo, da Unifesp, são os condutores do metrô e os motoristas de ônibus e de táxi.

Ambientes de lazer também estão entre os focos de barulho que constituem motivo de alerta constante por parte da especialidade médica que lida com as queixas nos consultórios. "Casas noturnas em geral representam um risco elevado especialmente para os que lá trabalham porque ficam expostos muitas vezes a decibéis estrondosos", diz Yotaka Fukuda. Assim, DJs que pilotam as pick-ups em volume máximo devem ficar atentos aos sinais de perturbação auditiva.

Imagine o barulho de um cortador de grama podando um extenso matagal. Ele emite em média 90 dB, o limite de resistência do ouvido ao risco de dano. Acima disso já há sofrimento na estrutura interna do aparelho auditivo. Mesmo dentro do limite suportável, ouvir por mais de quatro horas esse barulhinho não é nada bom. Pois qualquer ruído que exceda esse limite já estudado à exaustão no campo da especialidade otorrinolaringológica é um abalo sísmico na região interna às orelhas. "Qualquer estímulo, tátil, luminoso ou ruidoso, quando muito intenso, lesa o órgão sensorial", explica Yotaka Fukuda, professor livredocente associado de Otorrinolaringologia da Unifesp. Ele detalha a seguir o funcionamento dessa estrutura responsável pela audição:

 Nascemos com 15 mil células sensoriais em cada orelha, mais especificamente na cóclea (uma estrutura em forma de caracol). Ali existem as células ciliadas ou sensoriais, responsáveis pela transformação da energia vibratória em impulso elétrico e sua condução ao cérebro por meio do nervo auditivo. São como uma usina transformadora da energia vibratória e elétrica, procedente do som ambiental.

 Cada vez que o som excede os 90 dB, tem início o processo de deterioração das células ciliadas. À medida que ocorre a agressão, ela se acumula e há perda gradativa. O mau funcionamento progressivo resulta em morte celular. E não há possibilidade de regeneração. A relação entre quantidade e dano, neste caso, é diretamente proporcional. Quanto maior a intensidade do ruído, pior para a audição. Quanto mais tempo exposto, mais rapidamente se pode evoluir para a surdez.

 Se a exposição for intensa, persiste uma lesão cicatricial que irá afetar a condução elétrica do estímulo auditivo ao cérebro. Assim, a pessoa torna-se surda por inexistência de células sensoriais que transformem a energia em impulso elétrico.

Fonte: Revista Viva Saúde